o pessimista queixa-se do vento, o optimista espera que mude, o realista ajusta as velas.
William George Ward

28.1.15

O que se perde na ausência

É suposto que goste do bairro alto. Da comida vegetariana. Do sushi. Que medite. Que use Báton vermelho. Que me encante o filme pseudointelectual e que a minha filha seja estimulada até ao tutano com aulas de ballet, musica, de hipismo, de canto e hip hop. É suposto que não fume e que beba q.b. sem excessos vergonhosos. Que a idade não se mostre. Que tenha uma casa com peças do siza vieira e quadros com um risco no meio. Que seja minimalista, de preferência. Que passe férias lá fora ou se forem cá dentro, que vá para a comporta. Que deteste pezinhos de coentrada e que não me ria alto. Demasiado alto. Jamais assuma que ouço a M80, mas que me esparramo numa alternativa Radar sem nunca assumir que me embalo com música foleira. É suposto ter seguro de saúde, empregada doméstica, um cão ou gato ou ambos e, de permeio, um coelho anão. Um bom carro cai sempre bem e a roupa da zara seja mascarada com uma mala de marca e uns sapatos Made In. É suposto não mostrar os cabelos brancos que segundo percebi, não mostram o carácter de quem assume a idade, mas denuda a desleixada. É suposto ter os filhos em bons colégios, em ATL’s espetaculares onde se gasta o que não se tem, mesmo que não se saiba quais os programas educativos da escola ou os resultados. É suposto esconder-se que se vai ao cabeleireiro de bairro. À tasca da esquina a não ser que tenha saído na time Out três vezes. É suposto ter um Iphone, um Ipad, um Ipod e de preferência andar com tudo atrás e mostrar, ou esconder se não for de uma marca da moda. É suposto não se mostrar que se tem dificuldades, que por vezes somos infelizes, que a tristeza também mora aqui. É suposto dizermos a todos os que colocam fotos novas, velhas, bonitas ou feias no Facebook que está lindo/a seguido de rasgados elogios. É suposto dizer-se que já se leu os clássicos, mesmo que ler não seja a nossa praia. É suposto correr, fazer jogging mas com estilo, nunca de roupa feia e deslavada. Faz-se com calças nike misturadas com um t-shirt adidas e umas cuecas fio dental, como se a coisa não incomodasse. É suposto não se viver segundo o que se é, o que se gosta porque no meio de tanta coisa, já ninguém sabe quem verdadeiramente é. 

Nunca devemos perder  a identidade, devemos fazer  o que  gostamos porque nos apetece e não porque os outros fazem ou gostam.

4 comentários:

  1. Tal e qual! Penso exactamente o mesmo, sem tirar nem pôr!
    Faço por não a perder e estou-me nas tintas para o que se pensa de mim. Nunca se consegue agradar a gregos e a troianos, agrado-me a mim e sou feliz assim :)

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  2. Já comentei na autora para partilhar! Adorei mesmo :)

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  3. Exactamente Maria Rita, não podemos nem devemos ser iguais aos outros :)

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